terça-feira, 3 de novembro de 2009

A imagem que é minha, que é tua!!!


A imagem que o Miguel tinha acerca da sua pessoa era impressionante. Quando numa conversa de esplanada me disse que tinha a ideia de ser um indivíduo justo, coerente, lúcido; que na maioria das situações com que se deparou, ou foi confrontado, tinha a ideia de que fora maioritariamente assertivo, criou em mim uma sensação de incerteza, uma sensação que me deixou de certa forma relativamente desconfortável!

Confesso que esta pequena dissertação acerca de “imagens”, não surge por acaso. António Rosa Damásio, nos seus fantásticos e incisivos ensaios, proporcionou-me um incremento de razão e inteligibilidade às minhas sensações, emoções e consequentes sentimentos; recordo: "Nem todas as alterações que sentimos no corpo são necessariamente as que se estão a passar". Aqui a minha preocupação assumiu um contorno de auto-investigação.

É consensual que determinados acontecimentos nos causam de uma forma geral o mesmo estado emocional. É igualmente unânime que o nosso corpo reage, assume uma resposta, e tem comportamentos muito similares, quando provocado/impulsionado por agentes exteriores,como por exemplo o tom avermelhado que a pele assume depois de pressionada. Mas o que será que determina então percepções e comportamentos divergentes.

É sem duvida, um tema com uma certa subjectividade. Assim decidi vasculhar no meu repositório de ideias, e eis que tenho duas ou três considerações que julgo pertinente frisar.

Quando nos referimos à ideia do ponto de vista, é indubitável que cada um tenha o seu, e, apesar de em alguns aspectos, o ponto de vista ser concordante, ele nunca poderia ser o mesmo… e porquê? A posição relativa como cada um aborda um determinado caso/acontecimento, nunca é a mesma; ela varia de indivíduo para indivíduo, isto porque seria impossível alguém observar um determinado objecto (parado ou em movimento), uma vez que a sobreposição física entre indivíduos é impossível. O ângulo de observação para determinado objecto/acontecimento é sempre relativamente diferente. Acima de qualquer tipo de consideração, encontra-se um conjunto de informações residuais muito diversas de individuo para individuo, armazenadas naquele magnifico CPU chamado “cérebro”. Temos também de ter em conta o “self”, o em si, modelado e dinamizado por acção das vísceras. Igualmente importante é a questão espacio-temporal (a dinâmica, o movimento), ela condiciona individualmente qualquer juízo e consequente imagem formulada após uma determinada observação. Não seria correcto deixar de assinalar, a componente modelar que a sociedade tende a uniformizar; contudo, esbarra na impossibilidade! Seria importante, cada um reflectir acerca da afirmação “todos diferentes, todos iguais”, ela tem um objectivo, um propósito importante, mas para esta reflexão vou empregar uma outra: ” todos diferentes, inevitavelmente diferentes”.

Porque temo a divagação, sintetizo a questão das imagens. O Miguel, o João, a Teresa, sempre terão uma ideia/imagem, individualmente criada acerca de um dado objecto, ou mesmo de si próprios, que em nada traduz de facto aquilo que é efectivamente assinalável, ou eventualmente corresponda ao facto em si. Arrisquei o teste e perguntei à minha querida mãe, se me achava bonito, giro? Fiz o mesmo ao espelho… a resposta revelou-se diferente!

Imagens, reflectem não apenas o que se observa, mas o que essa observação/interacção transmite individualmente. Imagens são mais do que um simples reflexo no espelho; as imagens são efectivamente, a forma como cada um processa e projecta a informação. A imagem não sou eu…

Numa noite particularmente imagética!