segunda-feira, 23 de agosto de 2021

O amor… não porque é novo ano…!

Escrever imparcialmente sobre um sentimento que é tão pessoal não é tarefa fácil, contudo sinto-me relativamente inspirado e impulsionado, nem sei bem porquê? Importa começar pela definição clássica de amor, que, segundo o Dicionário Priberam: “Sentimento que induz a aproximar, proteger ou conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atracção; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa”. Esta definição apresenta-se demasiado lata e simplista, os adjectivos utilizados não personificam a intensidade e o sentido que as pessoas experienciam ou têm por expectativa relativamente ao amor. Os testemunhos de pessoas que amam ou que se sentem amadas são de sensações empolgantes, arrebatadoras (não estou a incluir a afirmação: não sei explicar o que isto é;)), e repletos de palavras que procuram ilustrar não só o sentimento “ amor ” como as emoções que levam à criação desse mesmo sentimento. O Dicionário Priberam sugere-nos ainda que o amor pode ser: “ Sentimento intenso de atracção entre duas pessoas”. Quanto a esta sugestão nada de novo. Continuamos numa descrição muito estática, que, em meu entender se conota melhor com a paixão entre pessoas, e note-se que não me refiro apenas entre homem e mulher! Feito o introdutório, lanço algumas ideias para reflexão. Importa referir algumas frases clássicas acerca do amor e que se disseminam numa torrente sem fim nas redes sociais. Perdoem-me mas começo por Shakespeare: “O amor é como a criança: deseja tudo o que vê”; “O amor não se vê com os olhos mas com o coração”; “É muito melhor viver sem felicidade do que sem amor”. Interessante, poético, metafórico… mas será que nos revemos nas palavras de Shakespeare? Talvez não! Johann Goethe: “O verdadeiro amor é aquele que permanece sempre, se a ele damos tudo ou se lhe recusamos tudo”. Honoré de Balzac: “O verdadeiro amor, como se sabe, é impiedoso”. Camilo Castelo Branco: “Um verdadeiro amor é segunda inocência”. Miley Cyrus: “O verdadeiro amor não tem final feliz, porque o amor verdadeiro nunca acaba”. Nicholas Sparks: “O amor verdadeiro é raro, e é a única coisa que dá à vida um verdadeiro sentido”. Friedriech Nietsche: “No verdadeiro amor, é a alma que envolve o corpo”. Bem, a lista seria infindável. Espero que por esta altura, e quem tenha tido elevada paciência a ler, já tenha criado uma espécie de metáfora acerca do que é o AMOR. Efectivamente, nenhuma frase está certa, incompleta, ou muito menos errada. Porquê? Simplesmente porque o amor poderá ser o quinto elemento, ou sexto! Em boa verdade o amor constitui-se como um elemento agregador; temos dificuldade em explicar o que poderá significar, mas ele toca-nos, ou já nos tocou em alguma fase da vida. Atrevo-me a questionar se será possível existir sem amor. Talvez, embora difícil, creio! Estas breves palavras que provavelmente não constituem novidade, apenas têm o intuito de despertar os sentidos para o amor. Assim, obviamente vou lançar algumas linhas, ideias, sei lá, de alguma forma dissertar de forma ligeira acerca do amor. Recordo o filósofo francês Yann Dall'Aglio, que numa abordagem pouco clássica desmistifica o amor desta forma: L’ámour c’est le desire d’être desirable! Muito interessante na medida em que o homem e mulher contemporâneos procuram ser e manter-se desejáveis. Esta procura por vezes é de tal forma desmesurada que nos leva a fazer de tudo um pouco para investir no “capital de sedução”. O capital de sedução é a permanente procura de possuir elementos físicos e materiais que nos torne desejáveis, ou seja uma espécie de ostentação. Como forma de ultrapassar esta adversidade Dall'Aglio, afirma que a ternura como aceitação da fraqueza da pessoa amada, é um dos caminhos para o sucesso. Para Helen Fisher (professora de antropologia e pesquisadora do comportamento humano) o amor torna-nos sexualmente possessivos, facto que não acontece nos actos sexuais esporádicos. Apesar de questionável, aqui reside a aceitação da monogamia, até porque não se pode amar todo o mundo. O amor cria indubitavelmente o desejo intenso de estar sexualmente e emocionalmente com o parceiro. Após alguns estudos feitos com base em imagens obtidas através de tomografia por emissão de positrões (PET), verificou-se que o sentimento de amor/paixão incide em áreas específicas do cérebro como acontece com a cocaína, através da libertação de oxitocina, dopamina, substâncias estas ligadas ao prazer e que de certa forma viciam. Daí talvez se possa afirmar que o amor vicia, e não há razão porque não o faça. O amor é uma verdadeira pulsão que nos desperta e que nos embriaga com doses elevadas de hormônios que nos imprimem uma constante motivação. Termino com considerações muito racionalistas da escritora Mandy Len Catron. Para a Len Catron, o amor não se esgota na paixão, mas sim na durabilidade do sentimento. Amar poderá ser simples, mas manter o amor exige um pouco mais? A paixão é sempre a fase mais simples do “processo”. Numa primeira fase e apesar de parecer demasiado “mecânico” existem perguntas que se colocam: Como decidir quem merece o nosso amor, e quem não? Como manter a relação de amor e como romper? Teorizar sobre o amor é como discutir teologia, esbarramos sempre numa multiplicidade de questões e considerandos. As opiniões são tão diversas e todas elas são mais que válidas. Talvez seja demasiado pragmático afirmar que o amor não acontece. O amor existe porque cada parte decidiu amar. O mais lindo, é que se pode aceitar o amor e esperar que o nosso companheiro nos ame também, o que pode ser assustador, mas ao mesmo tempo desafiante! Num dia particularmente, particular!

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