
A história na sociedade afegã!
O titulo, por si só, pode não parecer sugestivo, contudo ele materializa o inicio do riwayat (pequena história metafórica). O riwayat, tem o seu equivalente em Dari e Pashto, na forma de "hikayat ou qissa", e em baluchi "nakl",
Yak-e bud, uak-e nabud (there was, there was not), assim começa boa parte dos riwayat. Importa nestes generos literários, salientar o legado histórico, a aprendizagem retida, a moral... quanto aos factos minoriza-se a sua exactidão.
A escrita é na realidade muito metafórica, pelo que, quando se pretende contar/descrever factos concretos utiliza-se a expressão "Hal in ast ki", ou seja (the matter is that). O intuito da história é na realidade servir de experiência para o presente. Um aspecto que importa referir, é que a história cronológica é colocada de parte, as histórias começam maioritariamente "Como é que o meu irmão foi preso pelos Taliban; Como é que os Taliban abusavam de crianças iranianas etc". Se se fizer um pergunta concreta acerca dos Taliban, a resposta será muito pouco objectiva, mas sim generalista, com o intuito de mostrar a ideia geral, e concerteza será também ela enfatizada!
A absorção que tenho feito, relativamente à cultura afegã, tem-se revelado interessante. Por incrivel que pareça, o afegão é na verdade um ser muito romântico.
O romantismo identifica-se em primeira instância na língua; em Dari ou em Pashto, não existem palavras especificas para grande parte das coisas,pelo que, é necessário descrever o cenário ou o contexto para descrever pequenas palavras; eis que pela forma de falar se começa a identificar pequenas notas românticas; na verdade o povo afegão adora falar, sendo que ao assistir aos primeiros diálogos, me parecia que estavam sempre a discutir.
Termino esta entrada no blog, partilhando com os leitores e amigos, um pequeno riwayat, que pretende mostrar a forma de ser dos "Pashtun", indivíduos muito rígidos que vêm a "sharia" como o fundamento das regras sociais:
...um dia eis que chegou a hora, o baluch teve de dar a sua filha em casamento. Ora bem, o pashtun veio para cá trabalhar e acabou por casar com a rapariga para construir uma família. Depois, levou a sua esposa, para a sua terra..não me lembro onde era a província, se era Helmand, Kandahar ou Lashkar Gah... o que é certo é que ele levou-a. Tempos mais tarde o pai "baluch", disse que gostava de saber como se encontrava a sua filha e se ela estava viva, ou se tinha sido feita prisioneira. O baluch partiu assim de encontro à casa onde morava a sua filha, mas não foi fácil lá chegar, uma vez que não havia carros, apenas burros e camelos. Passados 14 dias chegou a casa do marido de sua filha. Foi bem recebido, com muito pão e chá. Eis que o Baluch, disse que queria ver a sua filha...o marido respondeu que ele tinha bastante tempo e que a iria ver. No outro dia insistiu, e a resposta foi a mesma. Passados alguns dias já aborrecido afirmou que tinha vindo de muito longe para ver a sua filha e não o marido da mesma. O Pashtun embaraçado, respondeu que não era seu costume, e que não lhe era permitido mostrar a sua mulher a ninguém. O baluch respondeu que era pai, que tinha cuidado e alimentado a sua filha e que tinha o direito de a ver. Eis que o pashtun disse que não a estava a esconder, pelo que ela estava mesmo atrás da cortina da sala. Abriram a cortina e lá estava a filha do baluch sentada do outro lado da cortina. O pai perguntou à filha:- estás bem, como tens passado, como é a tua vida?. A filha respondeu: não estás a ver como é a minha vida? porque me perguntas? Assim, o pai saiu,pegou o seu velho casaco e foi embora. Esta é a forma como os pashtun vivem. Over. The program is over. "laughs".
Como te disse, este teu pequeno riwayat já começou a ser transmitido cá pelo ocidente, embora não de uma forma tão eloquente como com certeza um Baluch o faria (e o da opressão talibã sobre as práticas individuais religiosas teve bastante sucesso, mas seja como for, a malta por cá anda muito longe do Afg, não só geograficamente, mas também histórica e culturalmente, daí achar que o nosso jornalista em directo de Kaia, Kabul, tem também um efeito muito positivo no esclarecimento das massas!).
ResponderExcluirCá espero mais testemunhos, pode ser que sempre se consiga iniciar uma estratégia turística com aquelas ideias adrenalino-radicais de que falavas, eheheh! Só falta o Rio Kabul no seu melhor, e tá aí o povo caidinho :)
Tashakor!
M de F